sexta-feira, 30 de março de 2007

(In)Satisfação


O danado do ser humano é um bichinho insatisfeito por natureza. Não que seja ruim ser insatisfeito. Canalizada, adequadamente, a insatisfação nos move para melhores dias, mas convenhamos ser insatisfeito é um calvário. Às vezes dá uma inveja louco daqueles monges budistas que vivem meditando em total harmonia com si mesmos e com tudo o que lhes cerca. Tudo tão belo, tudo tão certo. Então, a gente - exemplar típico do mortal não iluminado - bebe uma cerveja na temperatura certa, come uma pedaço de picanha ao ponto, saboreia um mousse de chocolate na consistência perfeita e conclui o almoço com uma siesta de 30 minutos. Coisas completamente alheias ao pobre monge! Pois é, ces't la vie!

quinta-feira, 29 de março de 2007

Já teve alguma idéia brilhante?


Eu já tive várias, mas infelizmente alguém também já tinha pensado nelas antes. O que, você também? Pois é, por que será que isso acontece tão freqüentemente? Eu tenho uma hipótese boba, mas coerente. As pessoas não se levam à sério e por isso não colocam a suas idéias em pratica e aí perdem o timming e o reconhecimento. Creio que todos ou quase todos esperam a grande idéia genial, aquela que levará a humanidade ao próximo estágio da evolução. Acontece que as idéias brilhantes, e porque não rendosas também, são na verdade muito simples. Veja só o invento da figura ao lado. Fala sério, não é fantástico. Quem já não sofreu um pouquinho para descobrir naquele emaranhado de fios e tomadas qual era o do DVD e qual era do VHS? Pois é, eu também já tinha previsto a necessidade de organizar aquele caos atrás da estante, mas sei lá achei coisa de gente obsessivo, afinal o caos tem sua beleza. Quanto será que eu perdi em direitos autorais?

Gostou da idéia acesse aqui

quarta-feira, 28 de março de 2007

Opa, que eu ajudei a comprar essa bola!


Nas eleições proporcionais brasileiras a coisa funciona mais ou menos assim: o eleitor vota em um candidato ou, se preferir, na sigla do partido político de sua preferência. Depois a justiça eleitoral reuni o montante de votos manifestados na referida eleição, divide pelo número de vagas em disputa e estabelece o coeficiente eleitoral. Isto é, o número de votos necessários para todo e cada partido político eleger um candidato. Depois de verificar o coeficiente eleitoral, agora a justiça eleitoral verifica o número de votos atribuídos a cada um dos partidos políticos, divide pelo coeficiente eleitoral e determina o número de candidatos que cada partido elegeu naquele pleito, esse número é o coeficiente partidário. Os candidatos que tomarão posse dos cargos em disputa são aqueles mais bem votados em cada partido, respeitando os respectivos coeficientes partidários.

Acontece, e não tão raramente, que alguns eleitos não atingem nem uma ínfima parte, mas como são muitos os candidatos unidos sob a bandeira do partido, a soma de todos acaba conseguindo eleger um. Magnífico! A união faz a força e, neste caso, a coletividade partidária elege um companheiro que irá representar os interesses daquele grupo. Upa! As minorias serão representadas! Que ótimo, né? Seria se dias após os resultados o indivíduo favorecido por essa matemática toda não resolvesse se unir a outro grupo, em geral a maioria, abandonando os antigos companheiros. Em outras palavras, é como se o coleguinha pegasse a bola comprada com a vaquinha de todo mundo, mudasse de bairro, levasse a bola e deixasse os antigo vizinhos chupando dedo. Você acha isso certo? Pois é, mas era isso mesmo que acontecia. Coisa de doido, né? Pois é, o jeito é aumentar a população residente na Casa Verde.

Agora, o TSE revolveu que isto é errado. Está vendo, meu filho, é errado. Se o coleguinha resolver mudar de bairro e brincar com novos amigos, deverá antes devolver a bola comprada em conjunto com os velhos companheiros.

Agora sim, todo mundo vai entender como é que funciona a tal eleição para deputado.Viu como você tinha razão. Parece que eles recobraram a razão. Finalmente, novas vagas na Casa Verde.

O inferno são os outros?



Sim meus caríssimo, o inferno são os outros, mas o pecador somos nós.

Ontem, o Presidente da República afirmou que a culpa pela crise nos aeroportos é responsabilidade dos governos que o antecederam. Nas palavras do chefe: "Os outros não fizeram aquilo que deveriam ter feito ao longo de anos". O desabafo presidencial me fez lembrar do Sr. Jean-Paul Charles Aymard Sartre (1905-1980), de fato "o inferno são os outros".

A filosofia de Sartre apregoa que o universo é composto de dois tipos de seres; o seres Em-si e os seres Para-si. Resumidamente os seres Em-si. possuem uma essência definida, não possuindo potencialidades nem consciência de si ou do mundo. O ser Em-si apenas é. Já os serem Para-si, e aí estão incluídos todos os homens e mulheres, não têm uma essência definida, definindo e redefinindo a cada momento sua essência. Cada pessoa só tem como essência imutável, aquilo que já viveu, o pretérito. Em outras palavras, eu e você somos neste momento aquilo que fizemos, aquilo que passou. Porém, nada nos impede de sermos algo diferente no momento seguinte, isto é podemos a cada segundo, ou melhor a cada decisão e escolha mudar a nossa essência. Por isso, Sartre atribuía a cada ser Para-si a incondicional liberdade de fazer de si o que quiser.

Isso significa que cada pessoa pode a cada momento escolher o que fará de sua vida, sem que haja um destino previamente concebido. Somos portanto produtos de nossas escolhas. E mais o mundo é produto de nossas próprias escolhas. Sartre afirma que todos os seres Para-si se orientam fundamentalmente para um projeto específico: a auto-realização. Isto é, o ser Para-si sonha em ser uma pessoa que já realizou todas as suas potencialidades, todos os seus projetos. Ao realizar tudo o que podia o ser Para-si esgota suas potencialidades, tornando-se um ser Em-si, mas sem abandonar a consciência de nós mesmo e do mundo, tornando-se um ser em-si e para-si.

Obviamente, qualquer ser Para-si tem que enfrentar uma série de limitações e contingências para atingir o projeto fundamental. Essas limitações e contingências, no entanto, não podem ser entendidas como uma restrição à liberdade. Ao contrário, para Sartre as limitações impõe ao ser alternativas a cada um e cada um é livre para escolher dentre as alternativas a sua. A verdadeira liberdade não é fazer qualquer coisa, mas é escolher fazer qualquer coisa. Entendida assim, a liberdade é uma condição inalienável de todo ser Para-si.

A liberdade é acompanhada de responsabilidade. Cada escolha possui repercussão e é responsabilidade de quem escolheu. Uma vez que as repercussões das escolhas individuais interferem de forma irrevogável no mundo, cada indivíduo é responsável por todo o mundo. A consciência da responsabilidade acaba por trazer a todo ser Para-si o sentimento de angústia. Para fugir da angústia o ser Para-si acaba recorrendo a má-fe. Isto é, ele renuncia à própria liberdade, fazendo escolhas que o afasta do projeto fundamental e atribuindo conformadamente estas escolhas a fatores externos, ao destino, a Deus, aos astros e aos outros.

Caríssimo leitores, é claro que os outros interferem e provocam mudanças no mundo, alterando a disposição das alternativas que se apresentam a nós em nosso exercício de liberdade. Porém, ainda somos nós os responsáveis pelas escolhas que fazemos. Sabe aquela estória da limonada e dos limões, pois é. Se o inferno são os outros, é porque é através do olhar do outro que compreendemos e tomamos consciência de nossas próprias escolhas e de suas repercussões. Aconselho o chefe, na próxima viagem, a fazer um passeio pelos saguões dos aeroportos brasileiros, acho que ele vai se entender melhor.

terça-feira, 27 de março de 2007

Justiça Implacável


Justiça demora 2 anos para decidir sobre furtos de R$ 1 (Folha de S. Paulo)

Não são raros os depoimentos na mídia sobre a impunidade no Brasil. De A a Z, todos relacionam a crescente violência nos centros urbanos brasileiros à impunidade estrutural no Brasil. Não é por acaso que vire-e-mexe surgem iniciativas para aumentar as punições previstas no Código Penal ou, mais em voga na atualidade, diminuir a idade mínima para que o jovem infrator responda criminalmente por seus atos.

Pois bem, hoje, o jornal Folha de São Paulo publicou matéria que evidência que as coisas estão mudando aqui em Pindorama. Revela o diário paulista, com base em pesquisa realizada pela promotora Fabiana Costa Oliveira Barreto, que o Estado não está para brincadeira e investiga e pune com severidade aqueles que ousam sair da linha. Malandros tremei! Afirma a matéria que "
Levantamento em cinco capitais - São Paulo, Recife, Porto Alegre, Belém e Distrito Federal - identificou ao menos seis casos de pessoas processadas pelo furto de objetos no valor de R$ 1. Quatro delas foram presas e passaram ao menos um dia na cadeia." Espero que o Estado respeite a proporcionalidade da detenção em relação ao montante subtraído. Mensaleiros tremei!

Curiosamente, o citado jornal ridiculariza o esforço do Poder Judiciário em dar resposta à sociedade, vítima última desses bárbaros crimes. Que coisa bizarra, caríssimos leitores! Afinal de contas, é para acabar com a impunidade ou não? Se sim, como afirma um amigo de longa data: "é de baixo que se começa". Nota 10 para a Justiça. Aguardo os digníssimos magistrados para um chá na Casa Verde. Precisamos conversar à respeito.

PS.: A imagem acima foi capturada do blog BiBi FonFon. Espero que os créditos sejam suficientes para evitar a mão pesada da Justiça.

segunda-feira, 26 de março de 2007

Apresentação


Caríssimos leitores,

como são tortuosos os caminhos da razão humana. Por experiência própria, acredito que viver é se deparar com o bizarro. Foi por acreditar nessa verdade que decidi, apartir de hoje, compartilhar meus pensamentos sobre as manifestações idiossincráticas da raça humana aqui no Consultório do Dr. Bacamarte.

Não me comprometo a uma regularidade, nem tampouco com uma linha editorial. Fatos públicos e privados (com o óbvio respeito a integridade dos indivíduos) poderão e farão parte dos temas tratados no Consultório. Se alguém se sentir agredido, ofendido, mal-tratado ou coisa que valha, apresente suas queixas ao Bispo e ao barbeiro, e depois veremos.

Desejo a todos uma agradável leitura.