terça-feira, 29 de maio de 2007

Simbolismo


Ao fazer seu pronunciamento de resposta às acusações publicadas na Revista Veja, Renan Calheiros, senador tico-tico no fubá, o fez sentado na cadeira da Presidência do Senado Federal. E o que isso tem de importante? Tudo, meus amigos, tudo! Ao fazê-lo, o alagoano jogou pesado, utilizando de sua posição institucional para defender a causa própria. Poderia ter feito da tribuna, lugar comum a todos os senadores, não o fez. Da posição de Presidente da Casa, colocou a Instituição na fileira de sua defesa pessoal e os senadores como seus fiadores. Ao meu ver, errou, colocando a Instituição a qual deveria preservar na linha de fogo.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Personal Trainner


Descobri que Deus quer que eu corra. Não Ele não quer que eu seja um recordista mundial, nem tampouco quer minha profissionalização. Não, infelizmente Ele também não quer que eu assine um contrato milionário com a Nike. Mas definitivamente Ele quer que eu treine aos domingos, e ontem deixou isso muito claro.

Quem conhece Brasília, sabe que estamos começando a viver meses difíceis para a pratica de atividade física. As manhãs são fria, as tardes quentes e a umidade do ar costuma ficar abaixo dos 30%. Para quem tem liberdade de escolha, os melhores horários para correr são algo entre às 7h e 9h30 e depois das 16h. O problema é quem nem todo mundo pode escolher a melhor hora para treinar. Esse é meu caso principalmente nos domingos. Explico: lá em casa o meu filho acorda por volta das 7h e minha mulher por volta das 11h; como não temos babá aos domingos, cabe a mim cuidar para que o pequeno coma, beba, tenha a bunda limpa e, principalmente, não exponha a sua vida ao perigo nas manhãs de domingo (quem tem filhos de 5 anos sabe que está é um tarefa que exige integral e exclusiva atenção porque eles são capazes de, em frações de segundos, aprontarem o inimaginável). Assim, resta-me o agradável horário do almoço para correr ou o do depois do almoço (coisa impraticável quando se pretende comer com tranqüilidade e com umas cervejinhas).

Como o que não tem remédio remediado está, besuntei-me de protetor solar, enchi a garrafinha de água gelada e me propus a encarar o Eixão sob o sol do Planalto Central às 11h30. A expectativa era correr da altura da 111 norte até a Ponte do Bragueto e voltar para casa. Mas foi aí que Deus me revelou seu plano, e ele era bem mais ambicioso que o meu. Assim que saio de casa o tempo muda. Na verdade passei a ser seguido por uma nuvem, igual àquelas de desenho animado que persegue um personagem como se fosse consciente de seus movimentos. Pois é a nuvem acima de minha cabeça passou a me proteger do sol.

No meio do caminho fiz o trato com Deus, se Ele mantivesse a nuvem continuaria a correr até o início do Lago Norte. E a nuvem continuou. Chegando ao Lago Norte prossegui até a altura da QI 13, sempre acompanhado pela nuvem. Dei meia volta e a danada da nuvem me acompanhando. Lá pela altura da QI 5 além da nuvem ganhei um ventinho a favor, maravilhosamente refrescante. Cheguei em casa são e salvo, com o cansaço normal de ter percorrido 20Km, mas fiquei feliz por saber que tenho muita gente importante apoiando o meu treino. Em casa, ganhei até massagem nas pernas da minha mulher! Pode parecer presunção da minha parte, mas eu estou com um novo personal trainner que é Divino!

É estranho mas para mim a nuvem foi mais celestial que a visita do Papa.

Assunto Chato


Elegi como os três assuntos mais irritantes do 1º semestre de 2007: a visita do Papa, o milésimo gol do Romário e os Jogos Pan-Americanos. Nada contra o Santo-Vigário da Igreja Católica, nem com o Baixinho-Gênio-dos-Pequenos-Espaços, tampouco com o congraçamento dos povos americanos. O irritante é justamente o fato da mídia explorar a exaustão o acontecimento.

O Papa já veio e já foi; e mesmo que a Globo diga que não a visita foi um fiasco de público e crítica, principalmente quando comparada com as visitas anteriores do antecessor de Bento XVI. Convenhamos, o João Paulo II de bengala à la Chaplin dá de 1.000 a zero no Alemão, o cardeal. Alemão de sucesso no Brasil nesse ano, só o mulherengo do Big Brother.

Falando em 1.000, ontem o Romário fez o seu. Não foi como o programado. Não foi no Maracanã, não foi teve discurso em defesa de causas nobres à exemplo do de Pelé, nem teve placa comemorativa no Templo Sagrado do Futebol. O milésimo do Baixinho foi em São Januário, palco muito menos nobre do que o Maior Estádio do Mundo. O pior é que as manchetes de hoje foram roubadas do Camisa 11 pelas maracutaias patrocinadas pela Gautama. Pobre Baixinho, se não bastasse o Jadel Gregório ter batido o recorde de João do Pulo, que persistia à 32 anos, foi ofuscado na primeira página pelo Zuleido.

Em breve tomará lugar os Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro. Se o retrospecto dos eventos acima citados se mantiver, o vexame nos espera. Pelo menos estaremos livres!

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Trabalho PACas!


Não gente, eu não adoeci, nem estou de mudança e tão pouco negocio minha ida para o Pinel. Continuo aqui na Casa Verde, mas o ritmo de trabalho saiu da valsa vienense para o rock & roll. Em outras palavras, estou trabalhando pacas!

A semana foi cheia de planilhas, de cadastros, de apresentações e de reuniões. Meu Deus, quanta reunião! Se esse PAC não decolar, não será por falta de reunião. Enfim, nesse ritmo, o trabalho tem me impedido de acessar os sites da Internet, de falar ao telefone com os colegas, de me prolongar no cafezinho, de ler meus livros e, por conseqüência, de escrever neste blog. Isto é, aquela estória de "arbeit macht frei" é coisa de alemão nazista para judeu ver mesmo! Liberta coisa nenhuma!

Tem tanta coisa acontecendo que eu me sinto um verdadeiro alienígena no meu próprio mundo. Afinal de contas, quanto tempo é necessário para que a gente fique desatualizado? Passo alguns dias fora do ar e quanto volto o PT está de namoro com o PSDB; o dólar custa R$ 1,99; o Pedro Passos está preso; na França, Sarkozy nomeia um socialista para o Ministério da Relações Exteriores... ufa! Parem o mundo que eu quero tomar um ar!


PS.: Falando em Pinel, hoje é o Dia Mundial de Luta Anti-manicomial. Embora pareça contraditório apoio a causa para os não-políticos.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Gastos "de"correntes.

Ontem foi dia de festa nos gabinetes do Congresso Nacional. Depois de alguns meses de indefinição e pressão da opinião pública, os deputados federais, enfim, conseguiram aprovar um aumento de 28,53% para os seus próprios proventos. E para não serem acusados de egoísmo, extenderam o aumento ao Presidente, Vice-presidente e Ministros de Estado.

Os sabichões aproveitaram a chegada do Papa ao Brasil, fato que naturalmente atrai a atenção da mídia e da população, para decidirem em votação simbólica aumentar seus próprios salários. O que será que o Papa diria sobre a nobre estratégia dos parlamentares?

Agora vem a parte que eu achei a melhor: chamado a comentar o aumento salarial aprovado pela Câmara dos Deputados, o Ministro da Defesa, Waldir Pires, declarou: “Quando um ministro termina de pagar as coisas que decorrem do fato de ser ministro, fica com R$ 4 mil ou R$ 5 mil. Não tem sentido. Um gerente qualquer tem um salário melhor que um ministro.”

Primeiro fiquei intrigado, o que será essas “coisas” que os ministros pagam que decorrem do fato de serm ministro e que justificariam um adicional? Eu não tenho a mínima idéia, mas tendo em vista que o salário atual dos Ministros de Estado é de R$ 8.362,00, conclui-se que elas consomem metade do dinheirinho de “suas excelências”. Estou curioso, o que será? Moradia? Alimentação? Transporte? Vestuário? Imposto de Renda? Não não pode ser. Se for, devo lamentar ao Ministro pois, depois de eu pagar as coisas que decorrem do fato de ser “eu”, não sobra é nada!

Depois cai na gargalhada com a comparação com o tal “um gerente qualquer”. Não sei se “um gerente qualquer” depois de pagar as coisas que decorrem do fato de ser "um gerente qualquer" ainda fica com algum dinheiro para pagar coisas não decorrentes do fato ser "um gerente qualquer", o que sei é que se ele se demonstrar tão competente e responsável quanto o citado Ministro, o seu salário será de R$ 0,00. Ou será que alguém dúvida que incompetência na iniciativa privada dá demissão por justa causa?

Mas o que se esperar de um Ministro da Defesa que afirma que não é responsável pela crise aérea dos últimos meses e que “a responsabilidade é dos acontecimentos”. Será que ele aprendeu com o Presidente (clique aqui). Socorre, Jesus!!!!

Eu adoro os comentários do Ministro da Defesa. Já reservei vaga para Sua Excelência na ala nobre da Casa Verde.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Fazendo cara de bonzinho!

É impressionante como algumas corporações têm a preocupação em parecer atentas e preocupadas com a defesa de nobres direitos. Não quero aqui ser leviano e julgar a priori as intenções de todas as empresas e grupos empresariais, mas é evidente que algumas se fazem de boazinhas para defender seus próprios interesses, interesses esses tão privados quanto impróprios (trocadilho infâme, mas adequado).

Ontem à noite o Fantástico, da Rede Globo, fez uma reportagem que tinha tudo para ser libelo contra a censura. Deu voz aos escritores Fernando Morais e Paulo Coelho, que condenaram sem tergiversar a maneira como o cantor Roberto Carlos obteve na Justiça um acordo para banir biografia sua escrita pelo jornalista Paulo César Araújo. Em seguida, o Fantástico relembrou a censura da ditadura militar contra filmes e novelas. Deu voz ao cineasta Neville d´Almeida e ao diretor de TV Daniel Filho. No final, como quem não quer nada, de modo sub-reptício, jogou no ar a questão da classificação indicativa de programas de televisão determinada pelo Ministério da Justiça, prevista para entrar em vigor proximamente.

Pegaram a sutileza do método? Eu peguei e achei fascinante. O programa pega dois casos reais de censura (convocando artistas e advogados para se manifestar contra ela) e os coloca lado a lado com um terceiro que é muito diferente, mas está de acordo com os interesses da emissora. No processo, faz o público confundir classificação indicativa do Ministério da Justiça com censura e liberalismo empresarial com liberdade de expressão.

Não estou defendendo aqui a censura, e creio que o Ministério da Justiça também não. Tampouco creio que o governo ou o Estado possui condições de sozinho definir o que é ou o que não é apropriado para crianças e jovens assistirem na TV. O que creio é que algo tem que ser feito para auxiliar os pais na espinhenta tarefa de educar e promover o bem estar de seus filhos A classificação indicativa pode ser uma boa ferramenta para auxiliar-nos nesta tarefa, por que não tentar? E se a Globo quer mesmo ser boazinha, por que não é clara com seu público?

quarta-feira, 2 de maio de 2007

O trabalho se comemora descansando


Ontem foi feriado em comemoração ao Dia do Trabalho. A data faz referência ao 1º de Maio de 1886, quando trabalhadores da cidade de Chicago nos Estados Unidos da América, tomaram as ruas da cidade para reivindicar a redução da jornada de trabalho diária para 8 horas. O resultado imediato da manifestação foi a morte de alguns manifestantes. Três anos mais tarde, a segunda Internacional Socialista reunida em Paris decidiu anualmente uma manifestação com o objetivo de lutar pelas 8 horas de trabalho diário. A data escolhida foi o 1º de Maio, como homenagem às lutas sindicais de Chicago. No Brasil, desde 1949 (Lei nº 662), a data é reconhecida como feriado nacional. Mas não lhe parece paradoxal, prezado leitor, que o Dia do Trabalho seja comemorado com um feriado, isto é, sem trabalhar? A mim, não.

Quem me conhece sabe bem a importância que dou ao trabalho: trabalho vem sempre em primeiro lugar, afinal, primeiro a obrigação e depois a diversão. Sou o típico cidadão apegado aos poder das tradições vernáculares, e “trabalho” ainda é filha do latim tripalium, um instrumento de tortura. Isso mesmo, aquele que “enobrece e dignifica o homem” descende de um outro que foi concebido para função bem diferente: fazer sofrer terrivelmente, aviltar o homem. Chocante? Talvez, mas convém lembrar que a valorização moral do trabalho só chegou ao poder com a burguesia, muito depois de tripalium parir seu filho lusoparlante no século 13.

O trabalho nasceu traball, traballo, e cresceu ligado à idéia de sofrimento. Era, afinal, reservado a subalternos, de preferência escravos. Coisa de mouros, que “mourejavam”. Esse sentido de tortura a palavra e a idéia de trabalho ainda conservam, embora de forma menos central. Não falamos em trabalho de parto? Em ralação? Então nada mais justo, que dar um descanso ao coitado do trabalhador.

PS.: A figura que ilustra este post é uma reprodução da obra Café (1935), de Candido Portinari.