terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Nomenclatura



Quando era estudante universitário, eu e dois amigos tínhamos uma banda de rock de futuro promissor, mas que devido ao idealismo inconformista de seus membros jamais se submeteu à exploração empresarial e por isso mesmo jamais ensaiou ou tocou uma música sequer.


Embora seus instrumentos tenham se mantidos silenciados em sinal de protesto eterno, a banda tinha nome e estilo musical definidos.

Batizada de "Filhos de Hayek", numa homenagem ao economista austríaco Friedrick August von Hayek. Hayek entre outras ideias defendia que o sistema econômico, por ser demasiado complexo, não poderia ser planejado por uma instituição central e que por isso deveria evoluir espontaneamente por meio do livre mercado. Traduzindo, Hayek era um "puta liberal".

A ironia da homenagem ficava por conta da definição musical que nós, integrantes, demos ao "Filhos de Hayek": a primeira banda ultra-neo-pós-punk. Que coisa mais espontânea e ao menos tempo menos "liberal" do que ultra-neo-pós-punkismo?!?

Pois bem, mas por que resolvi resgatar o meu quase passado de rock star? Porque hoje, li que o MST decidiu que fará campanha contra José Serra nas eleições deste ano. O motivo, segundo o líder do MST, é que a vitória de Serra significaria o retorno do "neoliberalismo clássico" ao Brasil.

Caramba - você me perguntaria - Dr. Bacamarte, já existe um "neoliberalismo clássico"? E eu te responderia: "Hã?!? Num entendi o que você falou".

Prezados, pelo que me recordo do que aprendi na velha UnB, dentro da rigorosidade acadêmica existe muita discussão se existiria esse tal de neoliberalismo. Agora, faça um cálculo o tal "neoliberalismo clássico".

Para muitos, neoliberalismo nada mais é do que um rótulo, que ganhou o discurso jornalístico e para-acadêmico para denominar tudo aquilo que não era política de esquerda nas décadas de 90 do século passado. A ironia é que, "o que não era política de esquerda nas décadas de 90" passou a ser na década seguinte. Pelo menos da esquerda que dá certo!

E então? Então que como papel aceita tudo o que a caneta rabisca e microfone não faz distinção de palavra e barulho, surgiu o tal de neoliberalismo clássico e não me espantaria que daqui a pouco alguém falasse em "neoliberalismo pós-clássico" ou "neoliberalismo de 2ª geração".

Em minha opinião, caríssimos, a diferença entre o que seria "neoliberalismo clássico" e "neoliberalismo pós-clássico" não reside no conteúdo, mas no agente da política. Quando é a direita o agente se chama "neoliberalismo clássico", já quando o agente é esquerda chama "neoliberalismo pós-clássico"" ou "neoliberalismo popular" ou outro nome que você queira inventar.


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