segunda-feira, 30 de abril de 2007

Cabeça de Melão


Aceitamos as primeiras impressões como se fossem verdades dogmáticas. A conseqüência é que repetimos um monte de baboseira que escutamos por aí sem o menor senso crítico. Mais ainda quando o que ouvimos é proferido por alguém com um título qualquer, que confere uma aparente respeitabilidade e credibilidade. Cuidado minha gente, o perigo ronda a palavra dos experts.

Hoje, por exemplo, li que crianças com QI alto tendem a ser vegetarianas na vida adulta, segundo o Epidemiology Resource Centre of the University of Southampton. O estudo da universidade americana acompanhou 8.200 homens e mulheres em torno dos 30 anos, que tiveram seus QIs testados aos dez anos de idade e sugere que, à medida que as crianças crescem e seu QI se eleva, o paladar para a carne diminui. Segundo os pesquisadores, isso pode dar pistas sobre a relação entre inteligência e melhor saúde – o risco de doenças cardiovasculares diminui, assim como o nível de colesterol e a obesidade.

Nossa! Então comer carne é sinal de pouca inteligência?!? Parece que sim, isto é, se pra começar, você acredita que 8,200 pessoas compõem amostra significativa da espécie humana, que os diferentes tipos de inteligência podem ser apurados por testes de QI e que o Epidemiology Resource Centre of the University of Southampton é um centro respeitável e sério. Viu como é simples questionar um pouco o que você anda lendo?

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Ainda sobre a educação no Brasil



Ao observar a grande quantidade de copos, garrafas e sacos plásticos jogados ao chão no rastro da manifestação dos professores e profissionais da educação na Esplanada dos Ministérios, constato que ainda há muito o que se fazer pela educação do país.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Liquidação de Pré-venda


É impressionante! Ou pelo menos eu acho. O sétimo e último livro da saga de Harry Portter será lançado, em língua inglesa, no próximo dia 21 de julho, porém muitos fãs já fizeram suas encomendas. Até aí nada de mais. Mas a pré-venda foi tão boa, tão boa que agora já tem desconto. É isso mesmo, o livro nem saiu das prensas e já está em liquidação. É coisa de doido ou não é?

Nó da gravata


Nos último dias, graças as peripécias de um certo rabino, a gravata figurou no noticiário nacional. Particularmente, acho a gravata uma estranha no ninho da indumentária masculina. Explico: se extra-terrestres visitassem a terra, a gravata seria a única peça do guarda-roupa masculino que poderia se passar por acessório feminino, tal a quantidade e a variedade de gravatas disponíveis. Diferente de tudo que compõe o universo de vestimenta dos homens (neste caso me refiro ao gênero e não à espécie), existe uma enorme variedade de estampas para gravatas. Além desta variedade, os homens também se deparam com diversas possibilidade de nós de gravatas a serem combinados de acordo com formato das golas de camisas e dos pescoços que as preenchem. Pra que tanta variedade? Isso é coisa de mulher. E convenhamos, esse negócio de dar nó em volta do pescoço é coisa de gente masoquista ou sádica.

Contudo, apesar de toda a variedade de estampas e das preciosas dicas de adequação dos nós, tem dia em que simplesmente nada dá certo nesta estreita faixa de corpo que vai do pescoço a cintura. E depois de quatro ou cinco tentativas o jeito é mandar tudo pro inferno, fazer cara de quem não tem espelho em casa e aceitar o nó torto e o comprimento curto da gravata. Ninguém vai acreditar que depois de anos usando essa p... deu branco total e você simplesmente não consegue ajeitar essa coisa!

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Instrumento



Acho lindo pianos. Gosto especialmente daqueles pianos pretos de concertos, enormes. Contudo, se me derem de presente o melhor piano que existe no mundo, ele será, no máximo, o mais inútil de todos os aparadores de porta-retrados do mundo. Por que? Oras, porque eu não sei tocar nem "parabéns p'ra você" no piano. O que quero dizer é que instrumentos, por melhor que sejam, são apenas instrumentos; sem alguém capacitado para utilizá-los, se tornam inúteis objetos de fetiche.

Matéria da Folha de São Paulo, publicada na edição de hoje, com base em dois estudos feitos a partir dos resultados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), aplicado pelo MEC, revela que o uso de computadores nas escolas não melhorou o desempenho dos alunos em português e matemática. Por que? Bem segundo um dos pesquisadores envolvidos, a falta de efeitos positivos pode ser explicada por como os equipamentos têm sido usados. "Talvez esteja faltando em muitas escolas um professor que oriente o aluno a usar o computador".

Não tenho a solução para o problema da educação no Brasil, mas algo me diz que se o problema fosse somente a falta de dinheiro as coisas estariam mais perto de serem resolvidas. É claro, pelo menos para mim, que falta ao país um projeto de educação que responda a duas perguntas básicas: "que educação queremos" e "qual a finalidade da educação que queremos". Sem resposta para essas duas perguntas de nada adianta equipar as salas de aulas e os pátios escolar com toda a sorte de equipamentos. Enquanto isso, as escolas se transformarão, cada vez mais, em depósitos de pianos, de gente, de potenciais.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Indispensável


No trabalho, reclama-se por não ter a competência reconhecida, por não ser promovido, por não ter todo o potencial aproveitado, por não ser envolvido naquele projeto especial, pelas oportunidades perdidas. No dia seguinte, agradece por não ter que ir àquela reunião logo cedo, por não ter produto a entregar, por não estar viajando ao interior, por não ser indispensável e poder ficar em casa e paparicar o filho febril. Conclusão, enquanto não viabilizarem a clonagem humana no estilo "desenho-animado" é imperioso saber quais são as verdadeiras prioridades da vida.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Quando 1 quilômetro não são 1000 metros. (Parte I)


De acordo com o Sistema Internacional de Unidades, o metro é a unidade básica para medir a grandeza de cumprimento. Antigamente, o metro era definido como uma determinada fração da circunferência da Terra; hoje, porém, o metro é o comprimento do trajeto percorrido pela luz no vácuo durante um intervalo de tempo correspondente a 1/299792458 de segundo. Uau, rápida a luz, não é mesmo? Que nada um metro não é nada! Tanto é verdade, que vencemos algumas vezes essa distância toda vez que fazemos, despretensiosa e calmamente, deslocamentos para pegar um copo de água, abrir a porta da rua, atender o telefone ou ir ao banheiro.

De fato, percorrer alguns metros é tarefa simples para a maioria das pessoas. A coisa pode complicar quando o deslocamento é para pegar um copo d’água a noite para o filho de 5 anos às 4 horas da manhã, atender aquele telefonema aguardado durante todo o dia e que foi tocar justamente quando estávamos no meio do banho ou quando os metros nos separam do banheiro salvador depois dos efeitos abruptos e indesejados daquele caldo de feijão do clube. Esses são momentos em que pode até nos faltar o ar, embora a distância também não tenha sido lá essas coisas, não é mesmo? O que complica para a maioria dos mortais é percorrer os múltiplos do quilômetro, em especial os múltiplos de 1.000, os famosos quilômetros.

A maioria de nós, deixa os múltiplos de 1.000 metros para os carros, as motocicletas ou até mesmo as bicicletas. Alguns encaram diariamente a distância para chegar a um ponto de ônibus ou estação de trem de urbano, para então ir para mais longe ainda. Para eles, a distância representa um tempo a menos: um tempo a menos de descanso, um tempo a menos de lazer, um tempo a menos de convívio com a família etc. Não por acaso é uma distância odiada. Porém existem outros que olham os múltiplos de 1.000 metros com um olhar de encanto como se fossem um desafio. Um grande desafio a ser conquistado, seja perante os outros, seja perante si mesmo. Aqui, estou falando dos corredores de rua, os profissionais e os amadores. Sou um deles.

Obviamente não sou corredor profissional, meu desafio não é conquistado perante os outros; não disputo as primeiras colocações (tampouco disputo colocação alguma), não tenho patrocínio, nem vivo viajando atrás de corridas pelo país e pelo mundo. Sou um amador iniciante. Do tipo empolgado, que corre ouvindo música, que lê sites de corridas, que pesquisa sobre tênis apropriados, que busca dicas de dietas adequadas para os dias de treino e para os dias de provas, que coleciona quilômetros e estórias. Corro a pouco mais de um ano e ontem venci minha primeira meia-maratona, inesquecíveis 21.062 metros. Foi ontem que eu aprendi que 1 quilômetro (Km), muitas vezes é bem mais do que 1.000 metros.

(Continua...)

Quando 1 quilômetro não são 1000 metros. (Parte II)


A corrida foi em Brasília, percorrendo o Eixão, com largada e chegada na altura da 105 norte. E não podia ser diferente, aqui é minha cidade, aqui vivo e mais: a 105 foi minha quadra durante 15 anos (só quem é de Brasília sabe o que isso significa). A saída estava marcada para as 9h 15 , cheguei mas cedo para pegar o “chip”, para alongar a musculatura e para sentir o clima da prova. Pouco antes da largada encontrei com a minha torcida particular: esposa e filho. Aproveitamos para registrar o evento, algumas fotos para depois me confinar ao cercadinho da largada.

Finalmente a largada, com direito a disparo de rojões e música “tema da vitória!” (aquela do Airton Senna). Uau! A massa de três mil e tantas pessoas começa a se deslocar, sem atropelos, era possível ouvir os bips do tapete azul que dispara os chips e dos cronômetros de pulso, cada um registrando o tempo particular de seu dono.

Nos primeiros metros a multidão é um corpo só, os passos são coreografados em um mesmo compasso. Ombro a ombro, mulheres, homens, jovens, adultos e velhos dividem o asfalto do Eixão. A emoção dá um nó garganta, o coração bate a mil, talvez revivendo uma memória genética de tempos imemoriais do bando correndo junto, fugindo, se deslocando, se protegendo no grupo da ameaça dos predadores. É tomado por essa emoção que passo pela placa do quilômetro 1. Que susto! Olho para o relógio é ele marca 4 minutos e 30 segundo. Aqui encaro a primeira surpresa: o tempo está baixo, puxo a consciência para controlar o ritmo, pois nesse passo não seria possível completar os demais 20 quilômetros. Meu Deus, esse primeiro quilometro não teve ter tido nem 50 metros!

Ligo o Ipod e acomodo os fones no ouvido. Havia selecionado as músicas para a prova na noite anterior. Ela, a música, me ajuda a dar ritmo às passadas. Passo pela placa sinalizando 2Km. O nó da garganta é coisa do passado. Um pouco depois, ouve-se os gritos do pessoal da organização – “Sete quilômetros, virada à esquerda. Sete quilômetros, virada à esquerda”. Outro breve susto: Como assim sete quilômetros? Tratava-se da volta para os corredores que estavam disputando a corrida de 7.000 metros. Corrida de rua tem dessas coisas, na mesma prova há vários percursos e cada um se inscreve naquela mais afim com seu preparo e disposição. Sigo em frente, meu desafio era 3 vezes maior. Abandono a Asa Norte e entro no Buraco do Tatu.

Antes que os “não-candangos” se assustem, explico: o Buraco do Tatu é uma espécie de passagem subterrânea que liga os Eixos Norte e Sul por baixo da rodoviária do Plano Piloto. Sabe o famoso desenho do avião de Lúcio Costa, pois bem, o dito buraco une as asas passando por baixo do corpo do avião. Entendido?

A saída do Buraco do Tatu é uma subida íngreme (coisa rara em Brasília) premiada com a placa do terceiro quilometro e com o primeiro posto de água. Nem precisava, mas mesmo assim pego um copinho e bebo. Estou na Asa Sul. Nos próximos 2.000 metros é tempo do corpo ganhar velocidade de cruzeiro. Arrumo a passada e o corpo percebe que o exercício é pra valer. A cabeça faz um check-up nas condições físicas para identificar possíveis futuros problemas. São 2.000 metros de auto-conhecimento, de lembrar da unha do pé mal-cortada dentro do tênis e de se lamentar pelo pequeno desleixo.

(Cansado? Aguenta que tem mais...)

Quando 1 quilômetro não são 1000 metros. (Parte III)


A corrida segue é os metros se sucedem. Agora, eles parecem todos iguais, cópias idênticas da barra de platina, que ainda hoje é conservada no Bureau Internacional de Pesos e Medidas, na França. Venço as placas de 4, 5 e 6 quilômetros. Percorro um caminho conhecido, traçado quase que diariamente para levar meu filho à escola. Penso curioso: “os postes parecem mais próximo um dos outros quando passo de carro”. Antes de completar os 7.000 metros, aumenta o fluxo de corredores no sentido contrário. São corredores com mais experiência, mais perna e mais fôlego que já estão completando os 12.000 metros. Ai que inveja!

Sigo em frente, o fluxo crescente de atletas no sentido contrário entrega que o retorno está perto. Sou tomado por uma nova onda de euforia e ansiedade. A placa dos 9Km está perto. Depois dela é retornar no mesmo caminho da vinda, sem surpresas, os mesmo quilômetros idênticos à barra de platina. Uirruu! Finalmente a placa dos 9Km, com ela o retorno e com ele um tapete azul que registra o tempo parcial. De novo ouço os bips e lembro da largada, 45 minutos atrás.

É hora de beber mais água. Desta vez pego dois copinhos. O primeiro tomo junto com um sache de carboidratos (coisa mais doce que o doce de batata-doce), o segundo jogo nos ombros e no pescoço para refrescar um pouco o corpo. Daqui em diante, todo copo de água será bem vindo.

Agora é minha vez de ver os rostos de inveja. Passei para o grupo dos que estão voltando e me animo. Reconheço algumas caras. Um antigo aluno, também corredor, me saúda – “Vai lá fessor!”. O danado passa por mim, como se fosse uma flecha. Por algum tempo, fico imaginando se não seria mais fácil se tivesse uns 12 anos a menos. Olho para lado é vejo um senhor de cabelos brancos, cobertos por um boné amarelo, em passo ritmado, correndo ao lado de uma jovem que pedala uma bicicleta. Será sua filha? Será sua amiga? Será sua mulher? Acompanho-os por alguns momentos, vencemos juntos a placa dos 11 Km, mas depois deixo-os para trás. Antes da separação um asceno, ficamos amigos de quilômetros.

A companhia silenciosa daquele casal me provocou saudades da minha família. Passo a procurar nas sombras das árvores a silhueta da minha mulher e do meu filho. Um grito da torcida particular para animar viria bem. Vi uma mulher com uma criança pequena espichando o pescoço para depois dar um pulo e gritar – “é o papai lá!”. Olhando pela ponta do olho tive a impressão de ver aquele pai sorrindo ao ser acompanhado por aquelas pequenas pernas que logo se cansaram.

Chego aos 15.000 metros. Estou novamente na boca do Buraco do Tatu. É hora de me despedir da Asa Sul e voltar para casa. O que antes era subida se transformou em descida, o que guarda uma irônica semelhança com a vida, não é mesmo? Uma brisa correu o ambiente e senti a irresistível vontade de soltar o corpo, abrir os passos e aumentar a amplitude das passadas. Mais uma vez fui tomado por aquela sensação de euforia, foi um breve retorno às corridas da infância. O flash-back infantil teve seu preço e senti levemente uma pontada no posterior da coxa. Só faltava essa. “Presta atenção no serviço, rapaz!!”

(tem mais um pouquinho...)

Quando 1 quilômetro não são 1000 metros. (Final)



Ao chegar na Asa Norte, reparei que alguns atletas vinham caminhando no sentido oposto. Orgulhosos, comiam frutas e ostentavam no pescoço medalhas douradas, indicando que já haviam completado a prova e estavam voltado (à pé, diga-se de passagem) para suas casas. Venci o quilometro 18. Agora só faltavam 3.062 para conquistar a minha vitória. Cheguei ao local da largada. O local parece uma grande festa. Música ao vivo, sorveteiro, pipoqueiro, gente de bicicleta, gente namorando, gente tomando isotônico, gente tomando fôlego. Ainda não é o final, pois tenho que ir em frente mais uns 1.500 metros dar a volta e revisitar os mesmo 1.500 metros para completar a prova. Dá tempo de olhar o relógio oficial da corrida. Ele marca 1h 35 minutos e alguns segundos. Faço os cálculos: "posso fechar a prova em menos de 2 horas". Uau!

Faço um novo check-up do corpo. Estou cansado, mas nada doía ou incomodava em particular. A pontada no posterior da coxa é coisa do passado. Thanks God!. O trajeto é uma descida, vem a minha cabeça que daqui a 1.500 metros a descida novamente se transformará em subida. Ai, ai, a vida não é justa. Encontro o retorno e nele sou reconhecido por outro aluno – “vai fessor, o tempo tá ótimo!”. Retribuo a manifestação com um aceno de mão. Poupo minhas energias para a subida. Vejo a placa do quilometro 20. Já havia percorrido 20.000 metros, agora só faltava 1.062. Lembrei dos primeiros 1.000 e pensei, consegui! Mas então, os metros foram misteriosamente dilatados. Nada mais os fazia parecidos com a barra de platina. Os postes de luz estavam cada vez mais espaçados. As faixa de sinalização das vias se estendiam por duas, três quatro passadas. Cada metro era uma jornada. Voltei ao metro. Naquele momento, percebi que um metro pode ser muita coisa e a luz é muito veloz por percorrer essa distância em apenas 1/299792458 de segundo. Passei a verificar o relógio compulsivamente, o cronômetro parecia que acelerava e os minutos passavam em uma perversa relação inversa aos metros percorrido. Que inveja da luz, que no vácuo sempre percorre o metro em 1/299792458 de segundo. Pombas, mas eu não vivo no vácuo, apesar do que a minha respiração ofegante possa dizer ao contrário.

Tiro a cabeça da pista. Penso no último ano: nas primeiras aulas na academia; nas primeiras dores do corpo se acostumando ao exercício; no convite para a primeira corrida (4.000 metros); nos treinos na esteira; nas bermudas, camisetas e tênis dados de presente pela minha mulher para incentivar; nas manhãs no parque; nos novos amigos; nas mudanças de hábitos; na transformação do corpo; na exposição das fraquezas; na superação dos limites. Os 1.000 metros que separavam as placas de 20Km e de 21 Km são vencidos é o corpo magicamente se refaz em energia. Corro o pique final achando que sou um velocista, os último 62 metros são vencidos. Cruzo a linha de chegada. Por algum tempo não escuto nada, não vejo ninguém, porque não tenho ouvidos nem olhos. Sou apenas batimento cardíaco, sou apenas coração.


Ah, o tempo? 1 hora, 54 minutos e 58 segundos ou 16 meses. Pode escolher.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Confusão Monetária


Vocês devem ter reparado que o Banco Central do Brasil vem gastando uma grana para convencer o povo a usar as moedinhas. O negócio é sério, minha gente. Feiras e mercados já enfrentam dificuldade de negociar por falta de troco. Acontece que, por outro lado, a Caixa Econômica esta gastando outra grana para convencer o mesmo povo a guardar nos seus cofrinhos "poupançudos" as mesmas moedinhas que o Banco Central quer ver circulando por aí. O irônico é que quem conhece Brasília sabe que uns 100 metros separam as sedes das duas instituições.
Desavença de vizinhos? Problemas de comunicação? Está vendo como a vida institucional se parece com a nossa vidinha privada?

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Gente que passa por aqui...

Foi pelos bares da vida que descobri que algumas pessoas têm passado pelo Consultório para ler meus pitacos e que estão gostando. Aproveito, então, a oportunidade para deixar claro que comentários, embora sempre livres e espontâneos, são bem vindos.
Agradeço a todos pela generosidade e voltem sempre!


PS.: Ok, confesso que o "bares da vida" foi licença poética, foi mesmo nas festinhas de criança que fiquei sabendo das visitas de vocês por essas bandas!

Vossa Excelência, Deputado Garfield


Quem leu os jornais de hoje, deve ter reparado que o parlamento brasileiro não brinca em serviço, isto é, eles não topam com o serviço de jeito nenhum. Aconteceu assim: os líderes partidários se reuniram com o presidente da Câmara para discutir vários assuntos que estão trancando a pauta e impedindo votações na Câmara dos Deputados. Estavam na fila as emendas que restringem o emprego de parentes no serviço público e o preenchimento de cargos comissionados, o fim do voto secreto, a reforma política e o aumento do repasse do fundo de participação dos municípios (FPM), entre "otras coisitas más" (Desculpe-me, estou com a mesma mania do Presidente de falar em espanhol). No entanto apenas um tema obteve consenso entre os nobres parlamentares. Por unanimidade (e por favor, não vamos nos referir à Nelson Rodrigues e aquele lenga-lenga de que toda a uninimidade é burra, porque eu já não agüento mais esse povo que cita Nelson Rodrigues para tudo) ficou decidido que nenhum deputado precisará bater ponto às segundas-feiras em Brasília. De acordo com os representantes do povo, as sessões de segunda não são produtivas. Então, podemos concluir que quanto menos eles trabalham mais eles são produtivos?!?!? Prezados leitores, eu juro que tento, mas o negócio é coisa de doido mesmo. O jeito é chamar para recall esse povo.

Deixa o homem trabalhar


Gente, prometi mas não cumpri. Ontem não deu para escrever nada sobre os 100 primeiros dias do 2º mandato do Lula. O trabalho aqui na Casa Verde tomou todo o meu tempo e quando fui ver já estava engolido pela máquina. Desconfio de alguma conspiração palaciana para impedir a expressão do livre pensamento. São nestes momentos que lembro do barbudinho alemão: "Trabalhadores do mundo, uni-vos".

segunda-feira, 9 de abril de 2007

É amanhã.


Amanhã o 2º mandato do Governo Lula completará 100 dias. Como a esperança é sempre a última a perecer aqui na Casa Verde, aguardarei as próximas 24 horas para escrever o que penso sobre as 2.400 horas precedentes. Como gostam de enfatizar os controladores aéreos "atenção redobrada nestas próximas 24 horas", quem sabe algo de surpreendente ocorra?

domingo, 8 de abril de 2007

A essência das coisas.


Quem me conhece pode confirmar: adoro música, sempre gostei e escuto de tudo. Com o tempo os CDs (sou da primeira geração majoritariamente CD ao contrário de meus primos e primas que ainda viveram a era LP) foram se somando em pilhas de pequenos tomos coloridos. A coleção foi crescendo, mesmo que de forma mais lenta do que a desejada e passei a cultivar um orgulho pelos meus pequenos objetos tecnológicos. A coleção foi esquematicamente organizada nas prateleiras por gênero, artista e ano; uma verdadeira obra de lógica arquivista, onde selecionar uma gravação se tornava algo simples e automático, pelo menos para mim. E aí, Roma caiu.


Com o passar do tempo fui contagiado pelo
fetichismo da caixa e do encarte do CD. A música então se tornou secundária, quase um bônus, o prazer estava em acompanhar o desenvolvimento daquele painel colorido que se desenvolvia a cada inclusão de um novo disco. Colocá-los um ao lado do outro já proporcionava a satisfação daqueles 20 reais e tirá-los do lugar parecia um sacrilégio, uma perturbação à harmonia do universo. Cheguei ao cúmulo de comprar pastas para colocar os discos e assim manter as esculturas das caixinhas intactas. O processo de assentamento de novas aquisições nas prateleiras começou a ser demorado e, em algumas vezes, angustiante. Por vezes o novato aguardava duas semanas ou mais para enfim ser acolhido no seio da comunidade das prateleiras. Durante esse tempo o novo CD ficava ali de lado, como se esperando a decisão de um velho conselho de sábios para finalmente ser aceito no clube. Alguns sem terem a oportunidade de serem ouvidos, permaneciam imaculados em suas embalagens plásticas. Que delícia!

O
fetiche então enfrentou a dura realidade da limitação de espaço e da realidade de novas prioridades de consumo. O tempo da orgia fonográfica "juvesenil" estava sendo ofuscado pela invasão das fraldas e roupinhas de bebê. Não demorei a perceber: Constantinopla fora tomada por infiéis. Uma nova era surgira onde álbuns de fotos, brinquedos e DVDs da Disney tomaram o lugar de destaque nas prateleiras do novo tempo. Curiosamente a música renasceu no cotidiano, agora em nova roupagem: em forma de bits virtualmente copiados, sem capinhas de acrílico, sem encartes impressos em papel quadrado nem tampouco lacrados em plástico transparente. Agora, a música era uns apenas uns códigos binários, comprimidos em mp3, presente na memória do computador. A Bastilha caíra e outra era surgira no horizonte.

A maravilhosa novidade recuperou a essência das coisas, ou pelo menos a da música. A música deixou de ficar pressa na caixinha e ganhou liberdade. Agora ela vai e volta comigo ao trabalho, acompanha-me na corrida matinal, na ida à festinha infantil do outro lado da cidade etc. As prateleiras foram reduzidas a
gigabytes de memórias que selecionadas aleatoriamente colocam em seqüência antigos CDs separados há muito tempo por uma lógica ultrapassada sem o mínimo sentido nesta era de modernidade...

Olho em volta para as bolsas e sapatos
e aguardo pela próxima revolução...

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Quem é o amigo do meu amigo?


Não é sempre, mas também não chega a ser tão rara as vezes com que me pego incomodado com os amigos dos meus amigos que não são meus amigos. Confuso? Esclareço: sabe aquele cara meio estranho, sem papo nenhum ou com papo demais que você encontra na casa do seu amigo? Pois é, é dele que eu estou falando. Conversando com algumas pessoas, verifiquei que esse incomodo é mais comum do eu pensava. A princípio achava que era implicância minha; algo como um ciúme inconsciente do amigo ou um egoísmo básico se revelando, mas com o passar do tempo percebi que há outro motivos por trás desse incomodo. Acabei desenvolvendo uma teoria para explicar o fenômeno que parte de três constatações

A primeira constatação é unanimidade entre os antropólogos e sociólogos: o homem é um ser gregário, que só é completo no convívio com outros homens (por favor, entendam homem como espécie e não
gênero, senão vocês desvirtuam minhas palavras). Decorre daí que a presença do outro é uma constante na vida humana e que algumas presenças acabam se intensificando, por razões diversas, e se transformando naquilo que definimos como amizades.

A segunda constatação é que os homens, além de gregários, são em si complexos, contraditórias e idiossincráticos, inclusive os nosso amigos. Não adianta se iludir, ninguém é coerente o tempo todo, todo o tempo. Vai explicar como é possível que aquele cara
ultra intelectualizado que recita os poetas parnasianos de cor ao mesmo tempo seja um zagueiro truculento nas peladas de terças e quintas à noite; que aquele especialista em RH, que persegue líderes empresariais com ofertas de empregos maravilhosas, não consiga arrumar uma diarista para sua própria casa; ou que aquele economista, que cuida das finanças de um grande empresa, simplesmente não consiga gerenciar sua própria conta corrente? Entenda: seus amigos, assim como o restante da humanidade, são cheios de diferentes facetas. Isto não tem nada a ver com loucura ou dupla personalidade, pelo contrário é até normal.

Por fim, a terceira é que amigos são únicos, ou melhor, cada amigo é único e singular. Observe bem o seu grupo de amigos e você verá claramente isto. Ninguém é
exatamente igual, apesar de alguns interesses em comuns. E mais, ninguém é exatamente igual para você, pois cada um possui papel diferenciado na sua vida. A verdade é que atribuímos papéis diferentes para cada um dos nossos amigos. Não é raro termos amigos para cada espaço de nossas vidas, mas mesmo entre aqueles que dividem os mesmos espaços físicos (trabalho, casa, cancha de bocha, mesa de bar etc) cada um possui um papel diferenciado na dinâmica do grupo. E aqui, permita-me um parênteses, eu realmente estou falando de amigos verdadeiros, não estou falando de colegas ou conhecidos simpáticos. Eu me referi a pessoas realmente queridas e importantes.

A condição gregária, a natureza complexa e idiossincrática e a atribuição de papéis e espaços aos amigos é o combustível que alimenta aquele incomodo que temos dos amigos dos nossos amigos. E por que? Porque é conhecendo o amigo do nosso amigo que nos confrontamos com o lado contraditório do nosso amigo, e é isso que realmente incomoda. E incomoda basicamente porque seus amigos são o atestado vivo de quem é você, são, em outras palavras, os fiadores de suas qualidades. O que acontece conosco quando quem nos define é alguém cheio de facetas? Afinal, "
diga-me com quem andas e eu te direi quem és" talvez não seja algo tão certo assim.

terça-feira, 3 de abril de 2007

Combinou está combinado


Para os ainda não iniciados, a pedagogia aplicada, hoje em dia, nas escolas valoriza, sobremaneira, o processo de combinado na educação das crianças e adolescentes. Em suma, rogam os especialistas que ao ter suas demandas submetidas a um processo de negociação, as novas gerações aprendem a argumentar seus pontos de vistas, a fazer concessões e a respeitar o resultado como sendo o coletivamente possível e melhor para todas as partes. Desde modo esperasse educar cidadãos mais participativos, questionadores, responsáveis e defensores dos acordos sociais que nos permitem compartilhar ruas, escolas, praças, prédios, campos; enfim isto que chamamos civilização. Porém, para que tudo isto de fato ocorro os pilares fundamentais de todo o processo são: o respeito ao combinado e a capacidade dos pactuantes em cumprir o acordado. Isto é, quem combina algo tem que ter gerência ou posse sobre os termos do acordo. Por exemplo, se você combinou com o seu filho em permitir que ele ande no ponêi do circo, você tem que ter condições de influenciar o dono do circo em permitir seu filho a montar no quadrupede ou ser você próprio o dono do circo Por respeito ao combinado entende-se que aquilo que se combina tem que ser respeitado. Não vale voltar atrás unilateralmente. Combinou está combinado. Quer voltar atrás?!? Então, tem que combinar de novo.

O dicionário Houaiss, em sua versão on-line, defini combinado como o que foi agrupado, unido; objeto de combinação, pacto, acordado, acertado; que foi resultado de planejamento, delineado; que apresenta em harmonia, harmonizado, consoante, ajustado. OK, fiquemos por aqui.

Agora me respondam se puderem: que acordo foi esse que o Ministro Paulo Bernardo fez com os controladores de tráfego aéreo na última sexta-feira? Primeiro, ele não tinha gerência nem tem a posse dos termos do acordo. Quem controla os controladores aéreos é o Comando da Força Aérea Brasileira, por sua vez sob o comando do Ministério da Defesa. Depois, convenhamos que o combinado do Ministro foi tudo menos harmonizado, acertado ou planejado, e olha que ele é Ministro de Estado de Planejamento, mas isto é assunto para outro dia. Agora, que o acordo repercutiu meio mal entre os militares e na mídia, quer voltar atrás disdizendo o que disse, ou melhor, dizendo que nunca vez combinado nenhum. Conclusão, após mais um final de semana de caos nos aeroportos chegamos onde estávamos a seis meses: sem saber se o aeroporto é apenas o local que vamos para viajar ou se a viagem é só ir ao aeroporto.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Futuro, Presente e Passado


Muita gente recorre a videntes das mais diversas categorias para saber do futuro. Em que pese a picaretagem recorrente entre os tais "profissionais", a intenção dos consumidores desse tipo de serviço, invariavelmente, é descobrir se no futuro vão ser mais ricos, mais amados, mais bem-sucedidos, enfim, querem saber se serão ou não mais felizes no futuro. Ou pelo menos, querem ouvir isso de alguém. No fundo, as pessoas procuram por aquele reconfortante sentimento de que há um propósito pelo sacrifício contemporâneo, pela dor, pelas privações, pelo sofrimento, pelo dormir tarde, pelo acordar cedo etc. O danado é que com a cabeça no futuro acaba-se perdendo o presente e aquele futuro nunca se concretiza. Hoje tive uma experiência inversa. Vi o meu passado. Mas o vi de forma absurdamente clara e não da forma romântica, permissiva e condescendente que olhamos para o nosso próprio passado. Talvez tenha sido o sono da segunda-feira pela manhã, talvez tenha sido o fato de ter corrido 5 km com apenas um copo de iogurte nas última 9 horas, mas o que importa é que vi o meu passado como se fosse a história de uma outra pessoa. Acho que por isso descobri algo sensacional: eu vivo no futuro das videntes e cartomantes, isto é, vivo naquele futuro bom. Mesmo sem nunca ter investido um centavo na quiromancia, tive a certeza absoluta que eu vivo no meu futuro. Essa descoberta acabou me enchendo de uma sensação muito agradável: eu estou credor na contabilidade da vida, saldo positivo. Hoje é um ótimo dia para realizar lucros. Sensação legal. Adorei viver no futuro. E aí, ‘quer ler a sorte’?