quarta-feira, 4 de abril de 2007

Quem é o amigo do meu amigo?


Não é sempre, mas também não chega a ser tão rara as vezes com que me pego incomodado com os amigos dos meus amigos que não são meus amigos. Confuso? Esclareço: sabe aquele cara meio estranho, sem papo nenhum ou com papo demais que você encontra na casa do seu amigo? Pois é, é dele que eu estou falando. Conversando com algumas pessoas, verifiquei que esse incomodo é mais comum do eu pensava. A princípio achava que era implicância minha; algo como um ciúme inconsciente do amigo ou um egoísmo básico se revelando, mas com o passar do tempo percebi que há outro motivos por trás desse incomodo. Acabei desenvolvendo uma teoria para explicar o fenômeno que parte de três constatações

A primeira constatação é unanimidade entre os antropólogos e sociólogos: o homem é um ser gregário, que só é completo no convívio com outros homens (por favor, entendam homem como espécie e não
gênero, senão vocês desvirtuam minhas palavras). Decorre daí que a presença do outro é uma constante na vida humana e que algumas presenças acabam se intensificando, por razões diversas, e se transformando naquilo que definimos como amizades.

A segunda constatação é que os homens, além de gregários, são em si complexos, contraditórias e idiossincráticos, inclusive os nosso amigos. Não adianta se iludir, ninguém é coerente o tempo todo, todo o tempo. Vai explicar como é possível que aquele cara
ultra intelectualizado que recita os poetas parnasianos de cor ao mesmo tempo seja um zagueiro truculento nas peladas de terças e quintas à noite; que aquele especialista em RH, que persegue líderes empresariais com ofertas de empregos maravilhosas, não consiga arrumar uma diarista para sua própria casa; ou que aquele economista, que cuida das finanças de um grande empresa, simplesmente não consiga gerenciar sua própria conta corrente? Entenda: seus amigos, assim como o restante da humanidade, são cheios de diferentes facetas. Isto não tem nada a ver com loucura ou dupla personalidade, pelo contrário é até normal.

Por fim, a terceira é que amigos são únicos, ou melhor, cada amigo é único e singular. Observe bem o seu grupo de amigos e você verá claramente isto. Ninguém é
exatamente igual, apesar de alguns interesses em comuns. E mais, ninguém é exatamente igual para você, pois cada um possui papel diferenciado na sua vida. A verdade é que atribuímos papéis diferentes para cada um dos nossos amigos. Não é raro termos amigos para cada espaço de nossas vidas, mas mesmo entre aqueles que dividem os mesmos espaços físicos (trabalho, casa, cancha de bocha, mesa de bar etc) cada um possui um papel diferenciado na dinâmica do grupo. E aqui, permita-me um parênteses, eu realmente estou falando de amigos verdadeiros, não estou falando de colegas ou conhecidos simpáticos. Eu me referi a pessoas realmente queridas e importantes.

A condição gregária, a natureza complexa e idiossincrática e a atribuição de papéis e espaços aos amigos é o combustível que alimenta aquele incomodo que temos dos amigos dos nossos amigos. E por que? Porque é conhecendo o amigo do nosso amigo que nos confrontamos com o lado contraditório do nosso amigo, e é isso que realmente incomoda. E incomoda basicamente porque seus amigos são o atestado vivo de quem é você, são, em outras palavras, os fiadores de suas qualidades. O que acontece conosco quando quem nos define é alguém cheio de facetas? Afinal, "
diga-me com quem andas e eu te direi quem és" talvez não seja algo tão certo assim.

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