segunda-feira, 16 de abril de 2007

Quando 1 quilômetro não são 1000 metros. (Parte II)


A corrida foi em Brasília, percorrendo o Eixão, com largada e chegada na altura da 105 norte. E não podia ser diferente, aqui é minha cidade, aqui vivo e mais: a 105 foi minha quadra durante 15 anos (só quem é de Brasília sabe o que isso significa). A saída estava marcada para as 9h 15 , cheguei mas cedo para pegar o “chip”, para alongar a musculatura e para sentir o clima da prova. Pouco antes da largada encontrei com a minha torcida particular: esposa e filho. Aproveitamos para registrar o evento, algumas fotos para depois me confinar ao cercadinho da largada.

Finalmente a largada, com direito a disparo de rojões e música “tema da vitória!” (aquela do Airton Senna). Uau! A massa de três mil e tantas pessoas começa a se deslocar, sem atropelos, era possível ouvir os bips do tapete azul que dispara os chips e dos cronômetros de pulso, cada um registrando o tempo particular de seu dono.

Nos primeiros metros a multidão é um corpo só, os passos são coreografados em um mesmo compasso. Ombro a ombro, mulheres, homens, jovens, adultos e velhos dividem o asfalto do Eixão. A emoção dá um nó garganta, o coração bate a mil, talvez revivendo uma memória genética de tempos imemoriais do bando correndo junto, fugindo, se deslocando, se protegendo no grupo da ameaça dos predadores. É tomado por essa emoção que passo pela placa do quilômetro 1. Que susto! Olho para o relógio é ele marca 4 minutos e 30 segundo. Aqui encaro a primeira surpresa: o tempo está baixo, puxo a consciência para controlar o ritmo, pois nesse passo não seria possível completar os demais 20 quilômetros. Meu Deus, esse primeiro quilometro não teve ter tido nem 50 metros!

Ligo o Ipod e acomodo os fones no ouvido. Havia selecionado as músicas para a prova na noite anterior. Ela, a música, me ajuda a dar ritmo às passadas. Passo pela placa sinalizando 2Km. O nó da garganta é coisa do passado. Um pouco depois, ouve-se os gritos do pessoal da organização – “Sete quilômetros, virada à esquerda. Sete quilômetros, virada à esquerda”. Outro breve susto: Como assim sete quilômetros? Tratava-se da volta para os corredores que estavam disputando a corrida de 7.000 metros. Corrida de rua tem dessas coisas, na mesma prova há vários percursos e cada um se inscreve naquela mais afim com seu preparo e disposição. Sigo em frente, meu desafio era 3 vezes maior. Abandono a Asa Norte e entro no Buraco do Tatu.

Antes que os “não-candangos” se assustem, explico: o Buraco do Tatu é uma espécie de passagem subterrânea que liga os Eixos Norte e Sul por baixo da rodoviária do Plano Piloto. Sabe o famoso desenho do avião de Lúcio Costa, pois bem, o dito buraco une as asas passando por baixo do corpo do avião. Entendido?

A saída do Buraco do Tatu é uma subida íngreme (coisa rara em Brasília) premiada com a placa do terceiro quilometro e com o primeiro posto de água. Nem precisava, mas mesmo assim pego um copinho e bebo. Estou na Asa Sul. Nos próximos 2.000 metros é tempo do corpo ganhar velocidade de cruzeiro. Arrumo a passada e o corpo percebe que o exercício é pra valer. A cabeça faz um check-up nas condições físicas para identificar possíveis futuros problemas. São 2.000 metros de auto-conhecimento, de lembrar da unha do pé mal-cortada dentro do tênis e de se lamentar pelo pequeno desleixo.

(Cansado? Aguenta que tem mais...)

Nenhum comentário: