segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Horário de Deus


Minha avó Ana, em sua lógica particular, dedestava o tal de horário de verão. Na posição privilegiada de independência, que só o tempo ou o dinheiro concedem, ela chegava ao ponto de não alterar os ponteiros de seu relógio, permanecendo naquele que ela mesmo chamava de "horário de Deus".

Durante a vigência oficial do horário de verão qualquer compromisso com a velhinha precisavam ser confirmados com clareza sob o risco de a gente se adiantar ou dela se atrasar. Algo do tipo:

- Vó, a senhora marcou às 15 horas?
- É meu filho, eu mesmo marquei.

- Mas eu já estou aqui e ainda não chegou ninguém?
- Menino, é 15 horas no horário de Deus! Ainda são 14h, pra que a pressa?

A despeito da ciência que tenho que todo horário, seja o de verão ou de inverno, é uma convenção humana, e que portanto, Deus tem pouco coisa a ver com a hora em que decidimos começar ou terminar o dia; gosto de pensar o ato da minha avó como uma expressão da desobediência civil pacífica, que Mahtma Gandhi advogou no processo de independência da Índia contra a Coroa Britânia. Minha vó Ana era um verdadeira revolucionária!



2 comentários:

Leo disse...

Eu ja ouvi essa antes, mas, eh uma das minhas favoritas (ate o dia que vc decidir escrever sobre "os imutaveis").

Sua sabia avo tinha razao. Algumas coisas, como o tempo, deveriam ficar na mao de Deus. Ja esta provado que a mao invisivel de Deus funciona melhor que a mao invisivel do mercado.

Fabiano Lima disse...

Eu ainda tenho dúvidas se o mundo está preparado para a teoria sobre "os imutáveis". Mas em novembro lançarei o post sobre o assunto. Eu prometo.