segunda-feira, 7 de maio de 2007

Fazendo cara de bonzinho!

É impressionante como algumas corporações têm a preocupação em parecer atentas e preocupadas com a defesa de nobres direitos. Não quero aqui ser leviano e julgar a priori as intenções de todas as empresas e grupos empresariais, mas é evidente que algumas se fazem de boazinhas para defender seus próprios interesses, interesses esses tão privados quanto impróprios (trocadilho infâme, mas adequado).

Ontem à noite o Fantástico, da Rede Globo, fez uma reportagem que tinha tudo para ser libelo contra a censura. Deu voz aos escritores Fernando Morais e Paulo Coelho, que condenaram sem tergiversar a maneira como o cantor Roberto Carlos obteve na Justiça um acordo para banir biografia sua escrita pelo jornalista Paulo César Araújo. Em seguida, o Fantástico relembrou a censura da ditadura militar contra filmes e novelas. Deu voz ao cineasta Neville d´Almeida e ao diretor de TV Daniel Filho. No final, como quem não quer nada, de modo sub-reptício, jogou no ar a questão da classificação indicativa de programas de televisão determinada pelo Ministério da Justiça, prevista para entrar em vigor proximamente.

Pegaram a sutileza do método? Eu peguei e achei fascinante. O programa pega dois casos reais de censura (convocando artistas e advogados para se manifestar contra ela) e os coloca lado a lado com um terceiro que é muito diferente, mas está de acordo com os interesses da emissora. No processo, faz o público confundir classificação indicativa do Ministério da Justiça com censura e liberalismo empresarial com liberdade de expressão.

Não estou defendendo aqui a censura, e creio que o Ministério da Justiça também não. Tampouco creio que o governo ou o Estado possui condições de sozinho definir o que é ou o que não é apropriado para crianças e jovens assistirem na TV. O que creio é que algo tem que ser feito para auxiliar os pais na espinhenta tarefa de educar e promover o bem estar de seus filhos A classificação indicativa pode ser uma boa ferramenta para auxiliar-nos nesta tarefa, por que não tentar? E se a Globo quer mesmo ser boazinha, por que não é clara com seu público?

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