quarta-feira, 2 de maio de 2007

O trabalho se comemora descansando


Ontem foi feriado em comemoração ao Dia do Trabalho. A data faz referência ao 1º de Maio de 1886, quando trabalhadores da cidade de Chicago nos Estados Unidos da América, tomaram as ruas da cidade para reivindicar a redução da jornada de trabalho diária para 8 horas. O resultado imediato da manifestação foi a morte de alguns manifestantes. Três anos mais tarde, a segunda Internacional Socialista reunida em Paris decidiu anualmente uma manifestação com o objetivo de lutar pelas 8 horas de trabalho diário. A data escolhida foi o 1º de Maio, como homenagem às lutas sindicais de Chicago. No Brasil, desde 1949 (Lei nº 662), a data é reconhecida como feriado nacional. Mas não lhe parece paradoxal, prezado leitor, que o Dia do Trabalho seja comemorado com um feriado, isto é, sem trabalhar? A mim, não.

Quem me conhece sabe bem a importância que dou ao trabalho: trabalho vem sempre em primeiro lugar, afinal, primeiro a obrigação e depois a diversão. Sou o típico cidadão apegado aos poder das tradições vernáculares, e “trabalho” ainda é filha do latim tripalium, um instrumento de tortura. Isso mesmo, aquele que “enobrece e dignifica o homem” descende de um outro que foi concebido para função bem diferente: fazer sofrer terrivelmente, aviltar o homem. Chocante? Talvez, mas convém lembrar que a valorização moral do trabalho só chegou ao poder com a burguesia, muito depois de tripalium parir seu filho lusoparlante no século 13.

O trabalho nasceu traball, traballo, e cresceu ligado à idéia de sofrimento. Era, afinal, reservado a subalternos, de preferência escravos. Coisa de mouros, que “mourejavam”. Esse sentido de tortura a palavra e a idéia de trabalho ainda conservam, embora de forma menos central. Não falamos em trabalho de parto? Em ralação? Então nada mais justo, que dar um descanso ao coitado do trabalhador.

PS.: A figura que ilustra este post é uma reprodução da obra Café (1935), de Candido Portinari.

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